
Antonio Canova - Psyché ranimée par le baiser de l'Amour (1777)
No Escuro
no escuro
do teu ninho
te adivinho
num afago
sinto que apago
o que não vejo
num gesto
de desejo
— beijo
o amor e outras coisas que coçam
Celebeijemos
Antonio Canova - Psyché ranimée par le baiser de l'Amour (1777)
no escuro
do teu ninho
te adivinho
num afago
sinto que apago
o que não vejo
num gesto
de desejo
— beijo
“Olhos nos olhos, quero ver o que você faz”…
Autorretrato
meus olhos atravessam as coisas
como se não vissem nada
meus olhos entram dentro das pessoas
mais fundo do que deveriam
meus olhos procuram
a verdade oculta
a mentira vil que tua boca escreve
e teus olhos não assinam
meus olhos caçam
as fraquezas escondidas
dentro de você
meus olhos invadem
teus olhos.
apalpam, medem, conferem
e guardam.
A história de uma infanta nada infantil
Crianças vítimas das minas - Francesco Zizola
era uma nega fulô
à qual chamavam de gilda.
e para ela rir gostoso
os três meninos faziam-lhe cócegas:
um na sola dos pés,
o outro no sovaco,
e o outro na barriga.
depois um dedo no umbigo,
catar piolho na floresta miúda de pelos…
e aquele cheiro
de fruta suculenta e úmida
enchendo o ar
enchendo os sentidos
enchendo as cuecas…
em troca
eles lhe davam
as suas sementes.
e ela lhes devolvia
o seu olhar vazio
e o seu sorriso
sem dentes.
Se tivéssemos força…
Meu pai, Getúlio, e eu
Hoje, no Dia das Mães, também é dia do pai, uma vez que ele completou hoje 58 anos.
Para homenagear o meu velho — que ainda é bastante novo — coloco aqui o poema Se…, que fiz para ele e abre o livro O Amor & Outras Coisas Que Coçam.
Receba, meu pai, essa homenagem do seu filho, em nome das pontes que tentamos estender com nossos abraços.
Se tivéssemos força
suficiente para suportar
nossos frágeis olhares
se nossas bocas, tão duras,
comportassem a fala
ou um simples sorriso
se nossas mãos amarradas
permitissem o desprendimento
de um gesto de puro carinho
estenderíamos, com longos
abraços, pontes eternas
sobre os nossos abismos
Quando Pandora abre o baú e saem de dentro dele todos os males do mundo, a esperança, sabemos, fica presa na borda.
Nos momentos de vazio criativo — que podem durar meses, até anos — pelo qual todo escritor passa em algum momento da vida, é interessante ficar remexendo nos “baús”, à procura de pérolas esquecidas. Essa atividade acabará, por via de regra, levando ao reencontro de todos aqueles lixos tenebrosos ou inacabados, para os quais não houve coragem suficiente de torná-los públicos.
Tarefa mais interessante ainda — podendo, no entanto, mostrar-se extremamente dolorida e vergonhosa — é reler os primeiros cadernos de poesia. Entre absurdos literários e verdadeiros atentados à poética, pode-se acabar encontrando verdadeiras pérolas.
Fazer poesia é pegar as palavras pelo rabo
Fazer poesia é pegar coisas
abstratas como o vento
e adorná-las de mistérios
até que se transformem
em objetos contundentes
como borboletas azuis.
Fazer poesia é pegar
as palavras pelo rabo
e ensiná-las a voar.
Com quantos paus se faz uma canoa?
Nacionalismo
brasil sem pau-brasil sem pau-brasil sem pau-
cem
índios brazil
sem
brasil sem pau-brasil sem pau-brasil sem pau-
É aquela velha história: de onde vim, para onde vou…
Agora fiquei intrigado: se sei coisas que não aprendi nessa vida, que mais eu saberia sem saber que sei?
Retorno às dúvidas existenciais da adolescência?
Quem sou
E o que sou?
Que importa,
Posto que sou
O que não sei que sou?!
E se eu for
Algo que não quiser ser…
Pra que saber?
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